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Ao acaso

Por acaso, um dia desses, um amigo com quem não falo faz muito tempo me chamou para o aniversário de um ano do seu filhinho. Eu nunca tinha visto o Enzo e fiquei lisonjeada com o convite. "Poxa, mesmo sem falar comigo com frequência veio me chamar no inbox pro aniversário, que honra!"
Passei a semana pensando no que daria pro pequeno, mas mal sabia que quem ganharia um presente seria eu. 
Entre risos e idiotices, saio para fumar e encontro dois rapazes. Converso casualmente com eles, afinal área de fumantes é tipo elevador: E esse clima, hein? Ta foda. A tarde é recheada de momentos assim, entre latinhas e cigarros. 
Então alguém teve a brilhante ideia de jogar truco. É um daqueles poucos jogos de cartas que sei jogar e bem. Já saí a caça de um parceiro. "Oi, você sabe jogar truco? Sabe sinal? Não? Ah, beleza, já já vamos ali fora jogar, bora? Você joga? Sabe sinal? Opa!! Bora então, parceiro!"
- Ah, não me chama de parceiro assim não, to carente.
- hahahaha bora, parça.
- Vida, cê faz essa?
- Ih, amor, deu ruim aqui...
Oito. Oito partidas invictas. Saímos pra comprar cigarro. Na volta, com aquela carinha meio bêbada me pergunta:
- Posso dizer algo escroto?
- Pode.
- Me dá um beijo? Aff, pode me mandar calar a boca.
- Cala a boca, Maik.
Aquela não tinha sido a primeira vez que me pediu um beijo, mas estava tímida demais para beijá-lo ali, com todo mundo olhando. 
Vida vai, amor vem, brincamos de brigar, sou sua futura ex-esposa, namorada, tudo em meio a risos, em tom de brincadeira. 
Hora de ir. Como milagre, conseguimos enfiar sete pessoas num Fiestinha '96. Um no porta-malas, quatro no banco de trás, as madame motorista e passageira. Merecemos né? Trinta minutos de aperto e mais risadas. Deixo o casal em casa, parto para a próxima parada.

- Tchau, May!
- Tchau, meninos! Ei... Maik... me dá um beijo?
- Só um? - mal sabia que era o primeiro de muitos que aconteceriam naquela noite. 
- E.. posso te deixar em casa?
Quase sem responder, entra no meu carro e me acende um cigarro, me guiando até seu portão. Nos beijamos mais um pouco. Parecia receoso de que o que eu queria era apenas uma noite, uma diversão. Relutou em me chamar para dentro, mas depois de um pouco mais de beijos, carinhos e conversa, me convidou para passar a noite.
- Posa comigo hoje...
- Posar?!
- É! Pernoitar, passar a noite... gíria de velho, né?
Rio, faço um doce e aceito. Mas é claro que eu queria pernoitar. Entramos, trocamos mais carícias e conversas. Era engraçado, parecíamos um casal. Enfim transamos, que delícia que foram aqueles momentos antes, durante e depois dela. Mesmo depois de ambos terem gozado, deitamos na cama e não dormimos, conversamos por mais horas, até que o sono bateu mais forte em mim. Deitamos e ele começou a me acariciar. O desejo vem novamente e antes do que esperava, transamos novamente.
- Tá com sono agora, vida?
- Não, né. Alguém me acordou! HAHA
Ele acorda mais cedo pra me fazer almoço - eu tinha um compromisso por volta das 13h, tinha que sair cedo. Fico brincando com a gatinha dele, até que ele vir ao quarto e pedir para que eu manobrasse o carro, o pai dele iria sair e meu carro o impedia. 
Não tenho palavras para descrever a vergonha que tive ao sair da casa com o shorts e uma camiseta enorme, cumprimentar, me apresentar ao pai e manobrar o carro.
Passamos uma tarde maravilhosa, almoçamos, conversamos, assistimos vídeos interessantes, imagens fofas e idiotas, rimos de piadas que nos levariam (ou levarão) ao inferno por tê-las feito e rido. E não quero sair. Vou ficando, perco a hora do meu compromisso, tomamos café juntos. Ele dorme... acaricio seu rosto e seu corpo enquanto assisto o subir e descer de seu peito - quase como uma stalker
23h00
- Posa aqui de novo...
E não consigo resistir. Dou risada, acusando-o de ter me enrolado o dia inteiro para não sair. "Era seu plano o tempo inteiro, né?!" Assistimos vídeos sobre histórias de terror, hoaxes e ouvimos rap, muito rap. Lá pela meia noite jantamos, sempre conversando muito, sobre tudo, sobre nós, o universo, o mundo. Dormimos abraçados. O acordo no meio da noite com uma crise insana de tosse. Me pede pra parar de fumar e me dá água, enquanto me desculpo por acordá-lo. 
Logo cedo despertamos com a ligação de seu pai.
- Bom dia, pai.
- Boa tarde, já são quase 9h. Não te chamei antes porque você tá aí, nessa lua de mel.
Fico sem saber onde enfiar a cara. Nos arrumamos: ele para trabalhar e eu para voltar pra casa. Nos despedimos, mas em mim ficou aquela pequena saudade de algo que ainda não foi, e a vontade de não ter saído pairava sob a minha cabeça enquanto sentada no carro.

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